Fabricação brasileira de celulose é uma das mais sustentáveis do mundo

Fortalecer o protagonismo da indústria de papel e celulose no Brasil e atender às necessidades e anseios dos players do segmento. É o que pretende Fernando Scucuglia com sua candidatura ao conselho da Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP).

Nesta entrevista, o diretor da Valmet no Brasil fala sobre esse processo, comenta as perspectivas de crescimento do setor florestal no país e opina sobre a importância cada vez maior que a temática ESG tem para o mercado, ressaltando que a fabricação nacional de celulose é uma das mais sustentáveis do mundo. Confira:

O sr. tem quase três décadas de experiência no mercado de papel e celulose. Em relação aos últimos anos, que avanços observados no setor destacaria?

Quando iniciei meu programa de estágio na atual unidade de Limeira da Suzano Celulose e Papel, na época Ripasa, em 1992, a produção brasileira de celulose era de cerca de 1,5 milhão de toneladas por ano. Hoje, produzimos mais de 20 milhões de toneladas anuais. Para se ter uma ideia das transformações, uma única linha de fabricação existente hoje em alguns de nossos clientes produz mais do que todo o país produzia há quase 30 anos.

O que observamos nesses anos de desenvolvimento contínuo foram as melhorias de produtividade florestal, dos equipamentos e da eficiência operacional e energética, além do fechamento dos circuitos internos em busca de menores impactos ambientais, da maior automação das operações e do reconhecimento da capacitação de nossos profissionais.

Eu gostaria de destacar especialmente os avanços obtidos em eficiência operacional por meio da automação das unidades industriais, utilização de softwares de controles avançados de processo, manutenção preditiva e Inteligência Artificial. Na Valmet, chamamos essa “cesta” de soluções tecnológicas de “Industrial Internet” e temos certeza de que elas serão fundamentais para nos manter como referência global em excelência operacional.

Recentemente, o sr. se candidatou a uma vaga para o conselho da Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP). Quais são suas prioridades, caso seja eleito?

Eu quero atender às necessidades e anseios dos associados da ABTCP e do setor em que estamos inseridos, fortalecendo o protagonismo da indústria de celulose e papel no Brasil. Estou especialmente interessado em preencher um espaço deixado por algumas pessoas que me inspiraram a crescer profissionalmente e de alguma forma me motivaram a permanecer no setor por tantas décadas.

São profissionais que sempre tiveram uma atuação muito forte na ABTCP, como conciliadores e realizadores de grandes mudanças. É natural que muitos deles estejam agora se aposentando e abrindo espaço para que outros possam continuar com esse trabalho tão nobre e importante. Seria uma injustiça citar alguns desses profissionais aqui e esquecer de outros ícones, mas gostaria de prestar uma homenagem ao Renato Gueron: um profissional que sempre me inspirou muito pela capacidade de realização, energia e inteligência, que sempre foi muito atuante na ABCTP e, infelizmente, não está mais entre nós.

Quais setores ligados diretamente à área de papel e celulose estão mais aquecidos e com maior probabilidade de crescimento?

Os setores de embalagem e tissue são aqueles com maior potencial de crescimento a curto e médio prazo, principalmente por conta dos anseios da sociedade, cada vez mais urbana, digitalizada e buscando ser mais sustentável. Na pandemia, observamos o aumento do consumo de embalagens, devido às compras online. Isso também vale para os papéis sanitários: observamos um maior consumo em todo o planeta, em razão dos maiores cuidados com higiene que passamos a ter. Esta tendência vai continuar, mesmo depois que a pandemia passar.

A longo prazo, as fibras celulósicas provenientes de fontes sustentáveis serão protagonistas na substituição de plásticos e outros materiais que causam um impacto ambiental que não é mais aceitável. Um bom exemplo é o que tem acontecido com canudos e copos de plásticos que estão sendo substituído por materiais à base de fibras de celulose. Já o algodão, por limitações de cadeia de produção e custos envolvidos, não atenderá às demandas dos mercados, sendo a fibra celulósica uma alternativa barata, limpa e versátil para essa aplicação.

Mercado e investidores estão cada vez mais interessados na temática ESG. Como implementar soluções sustentáveis no segmento de papel e celulose?

A sociedade tem hoje um olhar mais atento às operações das empresas e suas reais preocupações em cuidar do meio ambiente, ter responsabilidade social e adotar melhores práticas de governança. Observamos que a facilidade e velocidade de divulgação de informações proporcionam um “empoderamento” do cidadão comum em certas causas importantes para a sociedade. Hoje um influencer pode rapidamente engajar um razoável número de pessoas a tomarem algumas ações de impacto de forma a pressionar as empresas a mudarem características de um produto, suas campanhas publicitárias e estratégias de crescimento.

Nesse cenário, os investidores estão buscando aplicar seu capital de maneira responsável, indo além da rentabilidade, que era o único foco do passado. Tal movimento vem guiando a decisão de muitas pessoas em investir, fazendo com que empresas e fundos de investimentos estabeleçam que as práticas ESG sejam incorporadas em seu dia a dia.

O processo de fabricação de celulose no Brasil é reconhecido pelas melhores práticas de manejo florestal do mundo. Produzimos 100% de nossa celulose através de florestas certificadas. Em termos de processos industriais, temos um circuito bem fechado, com aproveitamento dos principais fluxos internos de processo. O consumo de água para fabricação de celulose, assim como a geração e efluentes, tem diminuído significativamente ao longo dos últimos anos, com o desenvolvimento de equipamentos e processos mais eficientes em termos ambientais. O impacto das emissões gasosas também tem sido reduzido, com sistemas de abatimento de alta eficiência e aproveitamento desses fluxos para fabricação de outros subprodutos, tais como metanol e ácido sulfúrico.

As empresas do setor têm apresentado à sociedade programas de responsabilidade social consistentes com as demandas regionais em que estão inseridas, causando transformações significativas e positivas nas comunidades em seu entorno. Estamos melhorando a qualidade de vida e expectativa de crescimento econômico de milhares de pessoas.

Que dicas daria para quem deseja iniciar uma carreira no setor?

Sou muito suspeito e pouco isento para responder à pergunta. Dedicar-me ao setor de celulose e papel tem sido uma caminhada de muito esforço e sacrifício, mas também de aprendizado e crescimento contínuo. Um profissional com aspirações de crescer no mercado precisa ter em mente que o planejamento de carreira passa por um início muito difícil, que é o de aprendizado básico.

Um engenheiro recém-formado, por exemplo, demorará anos para ter o conhecimento necessário para começar a realizar entregas significativas em sua atividade. É preciso estar com a mente aberta e ter muita humildade para aprender com os profissionais mais experientes, em todos os níveis. A resiliência também é importante, pois os resultados de um esforço individual às vezes demoram para serem reconhecidos e o foco na carreira tem que ser sempre mantido na caminhada.

Por outro lado, após esse período mais complicado, será uma grande satisfação observar o quanto se domina em termos de conhecimento e experiência. Temos hoje os melhores profissionais trabalhando no Brasil e um movimento de “exportação” desses cérebros para outros países, onde assumem posições de destaque no setor já é muito comum.

Ainda, ter um bom networking é de extrema importância para o desenvolvimento da carreira em qualquer setor e é relativamente fácil no setor de papel e celulose. A ABTCP, com sua atuação, grupos de trabalho e eventos tem um papel fundamental na integração dos profissionais.

Quais são os planos de expansão da Valmet no Brasil para os próximos anos?

A Valmet é a única empresa do setor que pode fornecer aos nossos clientes soluções e produtos integrados em termos de tecnologia, serviços e automação. Nossa missão é transformar recursos renováveis em resultados sustentáveis. Somos 14 mil profissionais espalhados pelo planeta, mas conectados online, 24 horas por dia, sete dias por semana, através dos mais de 100 centros de serviços globais, 98 escritórios de engenharia e vendas, 43 unidades de produção de equipamentos e 16 centros de pesquisa e desenvolvimento.

Nossos equipamentos e soluções proporcionam ao cliente acesso as melhores tecnologias de fabricação de celulose, papel e energia, com alto rendimento, baixo custo, menor impacto ambiental e facilidade de operação, devido ao alto nível de automação de nossos sistemas. Além disso, estamos totalmente alinhados com os interesses do mercado em aspectos de governança ambiental, social e corporativa.

Recentemente, lançamos o Valmet’s Climate Change Program, pelo qual estabelecemos metas ambientais desafiadoras a serem atingidas até 2030, como a redução de 80% nas emissões de CO2 de nossas operações e o desenvolvimento de tecnologias carbon neutral para a produção de papel, celulose e energia.

A Valmet tem a ambição de ser campeã global em atendimento. Nossas operações no Brasil estão alinhadas com esta meta. Estamos no protagonismo dos principais projetos de aumento de capacidade de celulose e papel que ocorrem no país e no mundo. Nossa capacidade e atendimento com serviços como suporte técnico para a resolução de problemas, atividades de paradas de manutenção, contratos de longo prazo para performance e manutenção de rotina, peças sobressalentes, entre outros, está sendo ampliada de forma a atender às demandas que teremos com a busca constante do mercado por operações mais eficientes e de maior valor agregado.

Em tecnologia de automação, vemo-nos prontos para aplicar soluções integradas de melhoria de controle de processo e produto, antecipação de possíveis problemas e correções de desvios de forma automática e em tempo real, por meio de instrumentos especiais, ferramentas de inteligência artificial e da Valmet Industrial Internet, buscando fazer das operações cada vez mais autônomas.

 

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Murilo Basso

Murilo Basso