Somente em 2020, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) contabilizou mais de 22 mil focos de incêndio no Pantanal. Trata-se de um recorde: antes disso, 2005 havia sido o ano com mais queimadas no bioma, com 12,5 mil focos. Na Amazônia a situação também é preocupante. Em julho de 2021, foram registrados 5 mil focos de incêndio na região, aumento de 116% em comparação com o mês anterior, que já havia registrado o maior número de focos de queimadas dos últimos 14 anos para junho no bioma.
Muitos desses focos, entretanto, podem ser previstos com a ajuda da tecnologia. Uma metodologia desenvolvida pelo professor Fábio Teodoro de Souza, do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana (PGGTU) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) é exemplo disso. O modelo, que está disponível desde 2015, considera dados de focos de incêndios monitorados por satélites do Programa Queimadas do Inpe e dados meteorológicos da rede automática do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
O projeto foi testado no Parque Nacional Chapada das Mesas, no Maranhão, mas pode ser adaptado e aplicado em qualquer floresta brasileira. Segundo Souza, os focos de incêndios são identificados em todo o território nacional por vários satélites que registram o horário e as coordenadas geográficas dos focos.
As variáveis meteorológicas, em especial temperatura e umidade, explicam o fenômeno das queimadas, que normalmente começam com a combinação de baixíssima umidade e alta temperatura. Um sistema que lança mão de Inteligência Artificial (IA) foi utilizado para o treinamento dos padrões meteorológicos relacionados às “ocorrências” ou “não ocorrências dos incêndios”.
No caso do Parque Chapada das Mesas, o modelo identifica os focos de incêndio com 6 ou 12 horas de antecedência e com 85% de taxa de acerto, já que a estação meteorológica usa somente três medições diárias. Se forem utilizados dados de estações meteorológicas com maior frequência de medição, entretanto, é possível aumentar a antecedência e a eficácia da previsão de incêndio. Além da previsão de queimadas, o modelo pode ser adaptado a outros fenômenos, como deslizamentos de encostas causados por fortes chuvas.
Informação útil
O pesquisador da PUCPR lembra que a identificação do risco de incêndio florestal é uma informação útil aos órgãos responsáveis pelo combate às queimadas, já que a antecipação pode preparar as instituições para enfrentar a situação de forma ágil.
“As queimadas causam prejuízos e irreversíveis, tais como a destruição da biodiversidade e do patrimônio genético do Brasil. É preciso ter mais consciência das nossas riquezas naturais para protegê-las e evitar danos catastróficos para o nosso meio ambiente e para as futuras gerações dos brasileiros”, diz.
Esse tipo de informação também é essencial aos produtores florestais, que podem prevenir e evitar perdas significativas – e, consequentemente, prejuízos – em suas florestas plantadas.