Curitibano, com experiências profissionais na Alemanha, Finlândia, Japão, Inglaterra e Gana, o novo chefe-geral da Embrapa Florestas, braço da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), tem um desafio pela frente: desenvolver projetos dos quais a sociedade possa se apropriar.
Com quase 32 anos de atuação na Embrapa, o engenheiro florestal Erich Gomes Schaitza assume essa missão de forma consciente quanto ao trabalho que precisa ser feito, além de bastante otimista com as possibilidades e a qualidade das relações que a organização tem construído ao longo do tempo com a cadeia do setor florestal no país. À frente de uma gestão composta de forma igualitária por homens e mulheres, o cidadão “quase chato” em relação à sustentabilidade, como se define o engenheiro, pretende desafiar pesquisadores a construírem soluções simples para um mundo cada vez mais complexo.
Schaitza se mostra uma pessoa disposta a dialogar, um ótimo indicativo de que serão feitos esforços para que boa parte das ações previstas no plano diretor da unidade localizada em Colombo, no Paraná, sejam colocadas em prática.
Ao longo da conversa exclusiva com o portal Forest Digital, o especialista mencionou em diferentes momentos a importância da comunicação, da transparência e do processo de construção colaborativa de soluções para o setor.
“Temos alguns desafios para enfrentar. O primeiro deles é criar um diálogo muito forte com empresas, produtores agrícolas e proprietários rurais. Também é preciso estabelecer uma política de transparência, o que demanda comunicação. Temos que mostrar o que vai ser feito e o que já foi feito, de maneira que as pessoas possam se apropriar dos nossos trabalhos”, afirma.
Seguindo o Plano Diretor da Embrapa (PDE), a unidade florestal está trabalhando em um planejamento estratégico que tenha aderência entre os pesquisadores. A elaboração do documento contou com a participação de um núcleo central composto por cientistas e gerências do Brasil. A construção conjunta permitiu à Embrapa Florestas emplacar duas metas: projetos em manejo florestal e novos plantios de conservação. São soluções que, segundo Schaitza, atendem a todos os biomas.
Entre as frentes de ação do planejamento estratégico da unidade paranaense estão, por exemplo, aumentar a competitividade da indústria florestal brasileira com industrialização e eficiência de processos e a ampliação de projetos verdes que deem origem a produtos substitutos de derivados de petróleo. O diferencial, segundo o novo chefe-geral, é criar soluções que gerem novas oportunidades de negócios ao mesmo tempo em que contribuam para que a sociedade avance.
Além disso, faz parte do planejamento olhar para a floresta não como algo independente, mas sim como uma unidade produtiva que crie serviços e bens para sociedade, o que inclui estudos para manejo de pragas e impactos das florestas.
Schaitza afirma ainda que os projetos de pesquisa terão que equilibrar duas linhas: a de proteção e a de produção: “por um lado, fala-se em intensificação de produção; por outro, deve-se usar a floresta para conservação. Nesse aspecto, temos uma oportunidade para gerar sistemas mistos, de conservação produtiva ou produção conservadora”.
A importância da parceria
Conhecida pelos projetos em parceria com a iniciativa privada, a Embrapa Florestas aposta na ampliação desse diálogo para alavancar ainda mais o setor.
“Trazemos para os projetos em parceria 43 anos de experiência em desenvolvimento de pesquisa. Temos resultados diferenciados”, garante Schaitza, complementando que o mecanismo legal para os projetos conjuntos entre a organização e as empresas é o de cofinanciamento de ideias inovadoras.
Entre os exemplos de produtos desenvolvidos ou em desenvolvimento em conjunto com a iniciativa privada estão o inseticida biológico para praga de erva-mate, o fertilizante de liberação lenta à base de nanocelulose e métodos de manejo florestal para produção de pupunha para palmito, entre outros.
Schaitza reforça que a capacidade intelectual é grande e, por isso, os trabalhos cooperativos que atendam a várias empresas são uma opção. É o caso do consórcio formado por 10 empresas com a Embrapa Florestas, que contribuem financeiramente e intelectualmente para o desenvolvimento de material genético de pinus, o Fundo Cooperativo para Melhoramento de Pinus (Funpinus).
“Juntos, vamos oferecer materiais melhores para plantações florestais para madeira sólida, construção civil, chapas e móveis, visando uma madeira com maior resistência mecânica, entre outros estudos previstos”, comenta o novo chefe-geral da Embrapa Florestas.
Efeitos da pandemia
Schaitza conta que a pandemia do novo coronavírus afetou o trabalho dos pesquisadores, em razão da falta de visão clara do que poderia acontecer nos próximos meses. Percebeu-se a necessidade de ter ações mais proativas para os relacionamentos que envolvem a organização, com um planejamento estratégico para uma comunicação mais efetiva.
Nem tudo, porém, foi negativo. Os pesquisadores ganharam tempo para escrever, por exemplo. Para o novo chefe-geral, as restrições trazidas pela crise sanitária mostraram que há um “caminho do meio” viável, a possibilidade de um sistema misto de ação, adotando protocolos de segurança com redução ou rodízio das equipes. Segundo Schaitza, a pandemia também reforçou o fato de que a organização como um todo precisa aumentar seu relacionamento com a sociedade.
“A Embrapa nasceu com o DNA de contato com a sociedade. Somos um exemplo global de sucesso de desenvolvimento de tecnologias que chegam à ponta, mas queremos mais. Precisamos desenvolver novos produtos que gerem inovação e renda. Desafiamos nossos pesquisadores e nossos parceiros para termos novidades. Do ponto de vista da comunicação, é preciso desafiar os parceiros a levar as informações para a população em novos formatos”, pontua.
Cliente interno
A Embrapa Florestas não trabalha só para empresas, proprietários rurais e organizações. Um dos clientes da unidade é o próprio Governo Federal. Como gerador de informações científicas, a instituição é referência para o Ministério da Agricultura e para tomadores de decisão dos Poderes Legislativo e Executivo.
Um dos papéis da unidade, de acordo com Schaitza, é atuar como moderadora para que a legislação tenha base técnica: “estamos ao lado de órgãos governamentais para ajudar que eles estabeleçam diretrizes sustentáveis com impactos interessantes para a sociedade brasileira e para a cadeia florestal”.
Cidadão sustentável
Para finalizar, Schaitza, que é um apreciador da gastronomia, conta que adota diversas ações sustentáveis em seu cotidiano. “Moro em uma casa de madeira, não abasteço com gasolina, faço a gestão completa do lixo, compro comida perto de casa e dou preferência a alimentos produzidos na Região Metropolitana de Curitiba. Me definiria como um ‘quase chato’”, conclui.