As mudanças climáticas estão impulsionando iniciativas que buscam a redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE). Uma das mais promissoras delas é o mercado de créditos de carbono, que utiliza estímulos financeiros para incentivar as grandes empresas a reduzir suas emissões de poluentes.
“O mercado de carbono é um mecanismo que permite a venda de créditos por países que limitam as emissões para nações com maiores dificuldades de cumprimento das metas de redução”, explica o sócio-diretor do Grupo Index, companhia de consultoria florestal e ambiental, Marcelo Schmid.
O mercado de carbono cresce a cada ano e pode chegar a US$ 100 bilhões anuais até 2050, segundo informações do Instituto Internacional de Finanças (IIF, na sigla em inglês). Algumas promessas do segmento incluem a regulamentação do mercado de créditos de carbono no Brasil, o crescimento do mercado na China, iniciativas de grandes empresas pela redução de emissões e esforços de descarbonização na União Europeia.
- Mercado brasileiro
Um Projeto de Lei (PL 528/2021) em análise na Câmara dos Deputados quer estabelecer o mercado brasileiro de carbono. A proposta é instituir o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE).
“Por sua extensão territorial e quantidade de florestas, o Brasil tem potencial para monetizar e entrar de vez no mercado, se considerarmos que o crédito de carbono também se comporta como commodity”, afirma Schmid.
O especialista destaca que primeiro é necessário superar o desafio das emissões, uma vez que o país está hoje entre os 10 maiores emissores de CO2 na atmosfera. O maior responsável pela preocupante posição brasileira no ranking é o desmatamento: apenas em 2019, as emissões subiram 9,6% graças ao aumento do desmatamento, segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG).
- China na liderança
Principal investidor em carbono do mundo, a China lançou em julho de 2021 o maior mercado mundial de carbono, com a adesão de mais de 2 mil empresas. Inicialmente, o mercado abrange apenas o setor de energia, que representa cerca de metade das emissões do país. Em breve, outros setores com índices elevados de emissão devem entrar no mercado.
O projeto é parte dos esforços da China para atingir a neutralidade em carbono, o que envolve o cálculo total de emissões, redução onde for possível e compensação do restante das emissões, até 2060. No mercado de carbono, cada companhia vai contar com um limite anual de emissão de GEE, com base em seu histórico de emissões. Se emitir menos, a empresa pode vender seu crédito; se emitir mais, precisará adquirir créditos de outras empresas, que poderão ser negociados em bolsa.
- Descarbonização da UE
A União Europeia (EU) apresentou recentemente um plano ousado de “descarbonização” da economia. O projeto envolve os setores elétrico, industrial, de transportes e de agricultura. O programa inclui ainda os Mecanismos de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM, na sigla em inglês), que funcionarão com base na taxação na fronteira de produtos importados com emissão de carbono acima dos padrões europeus.
- Empresas reduzindo emissões
Empresas e investidores em todo o mundo buscam florestas em crescimento capazes de fixar carbono atmosférico e já procuram projetos de redução de emissão pelo desmatamento evitado (REDD). A Apple, por exemplo, anunciou a estruturação de um fundo de US$ 200 milhões para investir em projetos florestais capazes de remover carbono da atmosfera. Já o banco JP Morgan adquiriu a Campbell Global, uma das maiores empresas de investimento em florestas do mundo. O foco da instituição financeira não é apenas a produção madeireira, mas também o papel que o carbono fixado pelas florestas vai desempenhar nesse mercado.