A indústria da madeira de Santa Catarina tem forte inserção internacional. Saem dos Estado mais de 70% das portas e quase metade dos móveis de madeira maciça que são exportados pelo Brasil.
Ainda assim, há grande oportunidade para industrializar mais as árvores que são cultivadas em Santa Catarina.
As florestas de pinus – a madeira de reflorestamento que melhor se adapta à região – somam mais de 700 mil hectares, representando o segundo maior maciço florestal da espécie.
O esforço em agregar valor à madeira no próprio Estado é observado em Caçador, no Meio-Oeste catarinense.
A região é território de grandes áreas florestais cuja madeira serviu, ao longo da história, como matéria-prima em diversas partes do mundo, de modo semelhante a commodities agrícolas como a soja ou o café do Brasil, que são exportados in natura para serem industrializados em outros países.
“Isso está mudando. Nos últimos 10 anos tivemos grandes investimentos industriais e, além disso, diversos fornecedores de madeira passaram a industrializar o próprio produto, em vários segmentos de atuação, dando origem a novas fábricas”, diz Aurélio de Bortolo, presidente do Sindicato da Indústria da Madeira de Caçador (Simca).
O volume de madeira transformado localmente dobrou desde então, de acordo com o dirigente, dando origem a portas, molduras e móveis, classificados no setor como Produtos de Valor Agregado (PVA), que são na maior parte exportados, além de painéis de madeira reconstituída e outros produtos.
“Hoje em dia Caçador é o maior centro de industrialização de pinus do Sul do Brasil, considerando produtos de valor agregado”, afirma De Bortolo.
A empresa que De Bortolo dirige, a Frameport, é um exemplo da transformação setorial. O braço florestal do grupo foi pioneiro em Santa Catarina em obter, no início dos anos 2000, a certificação ambiental FSC (Forest Stewardship Council), que atesta a sustentabilidade da produção madeireira e é indispensável para que os produtos finais tenham acesso aos mercados da Europa e Estados Unidos.
Desde então a exportação de portas elevou-se gradualmente, chegando a 160 contêineres recheados da mercadoria por mês – todas as portas produzidas são exportadas.
A Frameport passa por novo processo de expansão que envolve investimentos de R$ 400 milhões. O projeto inclui a aquisição de uma serraria automatizada, já em operação, e a construção de mais duas unidades industriais – a primeira iniciará as operações em 2026, para atender a uma demanda do mercado norte-americano.
Ao invés de fornecer somente portas, a empresa passará a montar kits completos, que incluem portas, batentes e molduras, além de outras peças. Com a expansão, a capacidade saltará para 270 contêineres por mês.
Para sustentar a produção, a empresa conta com florestas próprias que somam 16 mil hectares, divididos entre pinus e mata nativa preservada.
“Hoje serramos somente o pinus que usamos e o restante fica de pé. Quando o ciclo de investimentos se fechar utilizaremos tudo o que a floresta plantada pode fornecer”, conta De Bortolo.
As condições de Santa Catarina para o pinus são excepcionais, pois o clima temperado oferece uma estação de crescimento prolongada, e as temperaturas baixas do inverno não afetam o desenvolvimento das árvores.
Some-se o longo trabalho de melhoramento genético e o uso de técnicas avançadas de manejo florestal e se tem um rendimento acima da média nacional.
O incremento médio anual das florestas de pinus no Brasil é de aproximadamente 30 metros cúbicos por hectare ao ano, enquanto em Santa Catarina a média é de 42 metros cúbicos, entre as empresas ligadas à Associação Catarinense de Empresas Florestais (ACR). É uma produtividade duas vezes e meia maior do que a registrada nos anos 1960.
Uma floresta plantada na Europa demora até 100 anos para crescer, enquanto aqui ela pode ser cortada em 15 anos”, diz o engenheiro agrônomo Mauro Murara Junior, diretor executivo da ACR.
Não são obtidos resultados tão bons com o eucalipto, pois a espécie não se desenvolve bem no frio e é intolerante às geadas.
Ainda assim Santa Catarina possui mais de 300 mil hectares de florestas da espécie. Essas árvores, em sua maioria, são usadas para a produção de lenha e carvão vegetal.
Já o pinus é majoritariamente transformado em produtos de madeira sólida, como portas, móveis, pallets ou madeira serrada, em polpa de madeira, que dá origem à celulose, papel e papelão, e em painéis reconstituídos (MDF, aglomerado e chapas de fibra).
A ACR teve papel relevante na organização e desenvolvimento tecnológico do setor, representando hoje em dia mais de metade das florestas plantadas de Santa Catarina.
Todas essas empresas florestais, de acordo com Murara, possuem certificações internacionais como a FSC, sendo, portanto, atestadas como sustentáveis, ao se comprometer com a manutenção de processos hidrológicos e a conservação da biodiversidade, fundamentais para a recuperação de áreas degradadas.
As indústrias também se mobilizaram para acessar os mercados, como por exemplo com a padronização da qualidade dos produtos por meio de programas de certificação de conformidade. Os resultados estão sendo colhidos.
Em um intervalo de 10 anos (2012-2021) o volume de portas de madeira exportado pelo Estado mais do que dobrou, de 56 mil toneladas para 130 mil toneladas – é preciso dar um desconto para os resultados do final do período, inflados pelo efeito da pandemia.
Ainda assim é um dado importante, considerando que Santa Catarina detém mais de 70% das exportações de portas do Brasil. O segmento de molduras também avançou no período, enquanto o de móveis vivenciou altos e baixos, porém sem nunca deixar de ser relevante – Santa Catarina detém 44% da exportação brasileira de móveis de madeira.
*com informações da FIESC