Breno Campos reforça status florestal do Paraná: “setor com base forte”

Breno Campos reforça status florestal do Paraná: "setor com base forte"

O Paraná é uma das principais potências agropecuárias do Brasil e tem demonstrado nas últimas décadas força dentro do setor florestal. Breno Menezes de Campos é diretor do Departamento de Florestas Plantadas (Deflop), da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab), e reforça a competência do estado dentro desse segmento.

“O Paraná é um Estado Florestal. Temos a maior produção de Pinus (57% do volume nacional) e uma produção de Eucalipto que vem aumentando a cada ano. Isso está atrelado a um setor com base forte. Possuímos cerca de 5680 empresas ligadas ao setor, envolvendo mais de 100 mil empregos diretos”, explica Campos.

O diretor do Deflop concedeu entrevista exclusiva à Forest News e contou sobre o trabalho da instituição em prol do segmento florestal, sobre as principais demandas passadas pelos empresários do segmento e também pela potencialidade sustentável que essas atividades oferecem.

Forest News- O setor florestal no Paraná tem conseguido demonstrar solidez e crescimento nos últimos anos. Na sua visão, quais motivos têm dado esse status ao estado?

Breno Menezes de Campos – O Paraná é um Estado Florestal. Temos a maior produção de Pinus (57% do volume nacional) e uma produção de Eucalipto que vem aumentando a cada ano. Isso está atrelado a um setor com base forte. Possuímos cerca de 5680 empresas ligadas ao setor, envolvendo mais de 100 mil empregos diretos. As empresas trabalham com diferentes produtos finais, o que chamamos de uso múltiplo da madeira. Celulose, papel cartão, painéis, molduras, laminados, cavaco, lenha, maravalha, pellets, e outros são características do setor florestal paranaense. Além disso, o estado do Paraná possui Empresas de grande porte e Cooperativas que demandam grande quantidade de matéria prima, tanto para celulose, serraria, como para queima industrial.

Apesar de possuir áreas próprias de cultivo florestal, as empresas e cooperativas fomentam a atividade em pequenos agricultores, o que permite um uso mais otimizado da base florestal, geração de renda e diversidade produtiva para os produtores rurais. Outra característica do estado do Paraná é a qualidade dos nossos solos e clima favorável para cultivos florestais. Conseguimos uma produção expressiva mesmo com a concorrência em áreas com as lavouras anuais de soja, milho, trigo e outros cereais de inverno. A versatilidade da produção florestal em áreas de menor aptidão agrícola ou declivosas também permite que tenhamos esse status, gerando renda e produtividade em áreas subutilizadas.

Também temos os sistemas integrados, onde o componente arbóreo pode estar associado a áreas consolidadas de pastagens e/ou lavouras, gerando diversidade de renda e produtiva, atrelado a maior sustentabilidade e resiliência dos sistemas e contribuindo para mitigação de gases do efeito estufa.

Além disso, temos o governador Ratinho Junior e o Secretário Norberto Ortigara como grandes visionários e parceiros do setor, com ações de fortalecimento e defesa para o setor florestal do estado do Paraná. Assim, histórico florestal, multifuncionalidade da madeira, base forte de empresas ligadas ao setor, fomento de produtores, demanda em expansão por matéria prima, clima favorável, solos favoráveis, sistemas integrados e apoio do setor público são alguns dos motivos que permitem esse status de solidez e crescimento.

FN – O Paraná tem no agronegócio um histórico de renda e geração de trabalho. Como é possível que o setor florestal possa atuar em parceria a agricultura e pecuária?

BC – A produção agrícola do Paraná é muito diversificada. Destacam-se as produções anuais de soja/milho no verão e trigo no inverno, sistemas consolidados em áreas historicamente bem produtivas para essas lavouras. Entretanto, estamos passando por um momento diferenciado.

Grandes empresas ligadas principalmente ao setor de celulose e cooperativas que necessitam de biomassa para queima visando secagem de grãos estão sentindo reflexos da oferta, com preços historicamente mais altos. Nesse sentido, a utilização de sistemas integrados ILPF com produção de madeira, grãos, carne/leite na mesma área pode ser uma das ferramentas para geração de oferta de madeira em sistemas já consolidados.

Há também o cenário da região Noroeste do estado, considerada uma nova fronteira agrícola estadual, onde os plantios florestais apresentam grande capacidade produtiva. Temos estudos internos que mostram áreas aptas à produção florestal que hoje estão subutilizadas, com pastagens degradadas ou sem produção, e que possuem um potencial muito grande para produção florestal.

FN – O setor florestal ainda carrega um senso comum de estar diretamente ligado ao desmatamento e outras práticas nocivas ao meio ambiente. Como você observa que o segmento tem trabalhado para modificar essa questão?

BC – Estamos trabalhando junto com o setor para mudar essa imagem, mas este processo é lento. A imagem de uma árvore caindo ou até mesmo a palavra desmatamento possuem um peso grande. Todavia, a produção florestal tem que ser vista como uma produção agrícola (lavoura de madeira), de ciclo longo, onde as práticas agronômicas são preconizadas.

Conservação de solo, correção de fertilidade, manejo das árvores, tratos culturais e colheita de madeira são realizados de forma a otimizar a produtividade alinhada à sustentabilidade. O Estudo Setorial de Empresas de Base Florestal (APRE 2022) demonstrou que, para cada hectare de floresta plantada pelas associadas, se tem um outro hectare com floresta nativa destinada à conservação. Isso demonstra como a questão ambiental é fortemente seguida pelas empresas do setor, o que contribui para que o estado do Paraná se mantenha com o título de mais Sustentável do Brasil.

Deve-se ressaltar que os cultivos florestais são considerados sumidouros de carbono, pela capacidade de retirada de CO2 via fotossíntese e fixação nas partes aéreas e raízes da árvore. Dependendo da destinação, esse carbono poderá estar fixado por anos, contribuindo para diminuição da concentração de gases do efeito estufa. Há um grande movimento do setor para fortalecimento da utilização da madeira engenheirada na construção civil e o governo estadual, com a participação da Seab, está estruturando uma política pública visando a utilização desse material sustentável.

Além disso, a disposição espacial dos maciços florestais em forma de mosaico está em sinergia com as questões ambientais, principalmente no que se refere à conservação da flora e da fauna silvestre, onde os corredores ecológicos são preservados além da preservação das matas nativas e corpos de água.

FN – Uma das principais demandas do setor florestal é a ampliação de áreas destinadas para o plantio. Como você acredita que o Paraná pode trabalhar para oferecer esses espaços e como isso poderia impulsionar indústrias locais?

BC – Eu entendo que temos duas principais frentes para aumento dos plantios florestais. Temos uma grande fronteira agrícola no estado que é a região do Arenito Caiuá, no Noroeste do Estado. Solo e clima favoráveis para exploração e áreas disponíveis para implantação de maciços ou sistemas integrados. A Secretaria da Agricultura e do Abastecimento vem trabalhando com outras instituições públicas e privadas para elaborar um documento de ordenamento florestal, onde vários fatores são analisados, principalmente a aptidão do solo, uso do solo, Valor Bruto da Produção, Índice de Desenvolvimento Humano, distância de principais consumidores, e outros.

Os estabelecimentos desses plantios nas áreas prioritárias servirão de fomento para indústrias menores, principalmente biomassa e madeira serrada. Para celulose, é mais difícil, pois são empresas de grande porte que trabalham com esse produto. Mas isso não impede que as florestas sejam destinadas a estas empresas. A empresa que irá analisar logisticamente o custo para a matéria prima chegar até a indústria.

De qualquer forma, uma ação ordenada para o estabelecimento florestal em áreas prioritárias irá promover desenvolvimento em toda a cadeia, gerando empregos, aumentando renda e alavancando índices sociais e produtivos.

A segunda frente para aumento da exploração florestal é integrar o componente arbóreo em áreas estabelecidas de lavoura e/ou pecuária com sistemas integrados ILPF. Estes sistemas estão cada vez mais sendo implantados, pois são considerados um dos caminhos para intensificação sustentável onde permite-se a diversidade produtiva de madeira, grão, carne/leite na mesma área. A utilização do ILPF possibilita melhoria de vários atributos produtivos relacionados ao solo (melhoria física-química-biológica), vegetal (proteção de intempéries climáticas e maior oferta de nutrientes), animal (bem-estar animal), ambiente (sustentabilidade e resiliência) e humano (geração e diversidade de renda).

FN – Como você tem avaliado a relação da SEAB com o setor florestal no Paraná? Você acredita que esse trabalho em conjunto pode impulsionar esses segmentos no Paraná nos próximos anos?

O Setor Florestal é responsável por 5% do Valor Bruto da Produção Estadual (VBP). Como mencionado anteriormente, engloba várias empresas e gera muitos empregos. Também é um setor versátil e estratégico para algumas áreas prioritárias do estado. Com esse panorama, o Secretário Norberto Ortigara vem fortalecendo o Departamento de Florestas Plantadas para que tenhamos, enquanto governo, ações alinhadas ao setor e que gerem crescimento regional para diversos municípios.

Além disso, temos comunicação direta com o setor privado, que possui aproximadamente a metade das áreas de florestas plantadas, para que o governo e a iniciativa privada caminhem juntos para fortalecimento do setor. Também somos o canal direto com o setor ambiental, levando para discussão pontos importantes do setor, sempre com foco no desenvolvimento sustentável.

A SEAB também coordena grupos estratégicos para aumento da produção florestal e defesa florestal. Ressalto aqui que existem a exploração dos madeiráveis e não madeiráveis, onde temos uma cadeia muito importante que é da erva-mate, onde coordenamos um GT específico para tratar desta cadeia. Esses grupos são interinstitucionais, com participação de técnicos e pesquisadores, cujo trabalho conjunto certamente poderá impulsionar a cadeia para os próximos anos.

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