Almir Amed Deud carrega vasta experiência no setor florestal e acompanhou o desenvolvimento do segmento no Espírito Santo. O profissional não hesita em apontar o impacto da atividade para o estado.
“Esse setor é um grande promotor de oportunidades de trabalho e renda, renda essa que movimenta boa parte da economia do estado, e de tributos importantes que somam em benefício da parte social”, pontua.
Amed Deud trabalhou em áreas como em gerenciamento de plantios florestais, manejo para usos múltiplos e industrialização PMVA (Produtos Maiores Valores Agregados) e comercialização. Hoje, avalia que o Espírito Santo tem potencial de crescer ainda mais no segmento.
“Pesquisas, emprego de tecnologia e capacitação de pessoal tem papel importante para ganho de produtividade das florestas, melhor desempenho das indústrias e competitividade do estado do Espírito Santo tanto para o mercado interno quanto para o externo onde os portos existentes são fundamentais”, complementa.
O profissional concedeu exclusiva à Forest News em que contou também sobre a importância do manejo florestal como aliado da sustentabilidade, as dificuldades da indústria madeireira nacional e também as discussões no Poder Público sobre a silvicultura.
Forest News – Na sua visão, como está situado o setor florestal e madeireiro do Espírito Santo atualmente?
Almir Amed Deud- O estado do Espírito Santo tem uma base florestal significativa, superior a 280 mil hectares de florestas plantadas, correspondendo a aproximadamente 6 % da área estadual mas representa percentual maior que esse no que diz respeito ao PIB.
Florestas de eucaliptos correspondem a 94 % da área plantada sendo os restantes divididos por outras espécies principalmente seringueira e pinus.
Esse setor é um grande promotor de oportunidades de trabalho e renda, renda essa que movimenta boa parte da economia do estado, e de tributos importantes que somam em benefício da parte social.
Próximo de 50% da exportação do agronegócio capixaba é decorrente dos produtos originários do setor florestal.
Importante ressaltar que para cada 100 hectares de florestas plantadas outros 50 hectares estão preservados no estado do Espírito Santo onde mais de 1/3 da área total dos empreendimentos florestais estão ocupadas com florestas naturais.
É uma cadeia florestal bem diversificada tendo as madeiras várias destinações tais como: celulose, indústria de painéis, serradas para indústrias moveleiras, embalagens, construção civil, arrumação de cargas, carvão vegetal, obras rurais, entre outros usos, além de látex extraídos das seringueiras e goma resina colhidas das árvores de pinus.
Pesquisas, emprego de tecnologia e capacitação de pessoal tem papel importante para ganho de produtividade das florestas, melhor desempenho das indústrias e competitividade do estado do Espírito Santo tanto para o mercado interno quanto para o externo onde os portos existentes são fundamentais.
FN – Qual a importância do manejo correto para o desenvolvimento do setor madeireiro?
AAD – A garantia de longevidade de uma atividade a longo prazo, bem como dos seus benefícios econômicos, sociais e ambientais dependem do modo que ela é desenvolvida, e ainda mais em se tratando de uma atividade que se desenvolve no seio da natureza é imprescindível que todos os cuidados sejam postos em prática em benefício dessa longevidade, daí o manejo correto fundamentalmente precisar ser praticado, além de que as boas práticas dão visibilidade positiva para os projetos e produtos inerentes, favorecem para as tão importantes certificações como comprovantes de respeito com a atual e com as futuras gerações.
FN- Na sua visão, como o manejo florestal é uma ferramenta importante contra o desmatamento?
AAD – À partir do momento que há um conjunto de regras claras e procedimentos que devem ser observados numa atividade, e uma legislação que recomenda a conduta correta, o que se espera é que isso deve prevalecer sobre qualquer tentativa ou ação que seja contrária ao que está convencionado.
A adoção das práticas seguindo o prescrito garante a preservação dos recursos naturais, mantém a biodiversidade e equilíbrio do meio ambiente e os ganhos das mais variadas formas que o ser humano necessita para viver, sem precisar esgotar os recursos.
É uma prática na qual o ser humano ganha sem a necessidade da natureza perder pois se a natureza perder é sabido quem paga a conta.
FN – As indústrias brasileiras tem aproveitado o potencial da madeira nacional para fazer mais produtos com maior valor agregado? Quais as principais dificuldades desse setor nesse aspecto?
A meu ver esse é um dos principais gargalos da indústria e reflete também sobre os produtores florestais que precisam vender suas árvores para serem transformadas em produtos, na maioria das vezes, subvalorizados.
As dificuldades são várias que vão desde a falta de esclarecimento sobre as potencialidades, falta de apoio técnico para desenvolvimento, desconhecimentos sobre máquinas, equipamentos e tecnologias disponíveis e, principalmente, sobre a existência de mercados para produtos que agreguem valor, quais produtos, volumes, preços, etc… e a viabilidade para cada caso.
Possibilitar aos produtores e industriais o conhecimento desses mercados e produtos inerentes e apoiar para desenvolverem suas capacidades de empreender com esse intuito é meio caminho andado para o setor prosperar através de melhores ganhos.
FN – Recentemente a Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que exclui a silvicultura do rol de atividades potencialmente poluidoras. Qual a sua visão sobre o tema e como essa mudança na legislação deve impactar esse setor?
Uma atividade que a ela estão atreladas as maiores áreas de preservação natural do país não deveria ser tida como atividade poluidora, mas sim atividade beneficiadora haja vista os recursos naturais preservados onde ela se faz presente, além da sua função de grande sequestradora dos gases poluidores.
A desburocratização ocorrendo atuará na retirada de uma trava que dificulta e onera desnecessária e injustamente um atividade que contribui para projetos economicamente viáveis, ambientalmente corretos e socialmente justos.
Mas de nenhum modo deve significar que as leis de proteção sejam desrespeitadas, mas empregadas com vigor contra os que interpretarem como licença para transgressão.
Essa entrevista faz parte da série especial sobre a Segunda Edição da Espírito Madeira, evento que será realizado entre os dias 7 a 9 de novembro, em Venda Nova do Imigrante (ES), reunindo representantes do segmento de ponta a ponta – desde produtores florestais até empresas de alto design.